A morte da mãe nos contos e o início da jornada psíquica
Os contos contam histórias da psique humana.
Inúmeros contos começam com a morte da mãe, e as jornadas começam com garotinhas órfãs e madrastas más que são um obstáculo mais, entre outros que vão aparecendo no trajeto.
Por que será?
A morte da mãe nos contos representa o que todos nós, no desenrolar da vida experimentamos, varias vezes.
Podemos fazer uma ponte com o conceito de “seio mau”, criado por Melanie Klein. Que no desenvolvimento do bebê se refere ao momento em que o seio começa a “faltar”, rompendo com a ilusão de fusão completa com a mãe (até então o bebê não entende a existência de um outro).
Quando aquela fonte inesgotável de amor, proteção e segurança começa a falhar, somos empurrados para o percurso psíquico que nos cabe trilhar. Que é o que nos permite formar e reconhecer nossa identidade.
Quando crianças temos essa imagem do adulto onipotente, com a maturidade essa fantasia se desconstrói, o que dá lugar ao desenvolvimento da autonomia. E esse processo vai se repetindo cada vez que vivemos uma desilusão. É a vida nos empurrando pra frente. Pra isso é inevitável: temos que lidar com a imagem da madrasta má. Daquilo que nos desafia e coloca em cheque nossa capacidade de nos desprender e encarar nossa sombra.
O mesmo esquema se manifesta quando em sonho a morte dos progenitores aparece assim, deixando, um sentimento de desamparo. É muito comum aquele susto e apreensão: “Será que é uma premonição?” Normalmente é só a psique anunciando o fechamento de um ciclo mesmo.
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